Para que serve um RH global
Para que serve um RH global
Especialista em liderança global, o conferencista americano Stephen H. Rhinesmith fala sobre os processos de internacionalização, as características de empresas globais e os paradoxos que envolvem o tema
por Luis Pereira
No início de agosto, o americano Stephen H. Rhinesmith esteve na África do Sul para ser o principal orador em uma conferência sobre liderança global, um evento que reuniu 300 líderes mundiais da Sanlam, um forte grupo sul-africano em serviços financeiros. Uma semana antes, Rhinesmith esteve na Cidade do México auxiliando líderes a aumentar a perspectiva global de seus trabalhos. E, antes disso, esteve em Dubai, onde aplicou um programa para 18 jovens líderes árabes. Tem sido assim a vida de Rhinesmith — entre viagens a trabalho pelo mundo e sua residência nos Estados Unidos. Consultor, conferencista, escritor, palestrante e PhD em administração pública e relações exteriores, Rhinesmith é autor, entre outros, do livro Guia Gerencial para Globalização, que aborda os fatores-chave para o sucesso num mundo globalizado. De sua casa em Stowe, no estado de Vermont, nos Estados Unidos, Rhinesmith falou a VOCÊ RH sobre o processo de internacionalização de empresas, o papel e as características dos recursos humanos nas companhias globais e os paradoxos que envolvem o tema.
O senhor costuma dizer que “paradoxos não podem ser resolvidos, podem apenas ser administrados”. Por quê? Porque paradoxos sempre envolvem duas necessidades contraditórias, e você não pode satisfazer completamente uma em detrimento da outra. O que acontece em qualquer paradoxo é que você precisa prestar atenção nos dois lados, mesmo sendo eles significativamente contraditórios. O exemplo mais fácil de compreender isso é por meio do paradoxo trabalho — família. Se você decidir que vai apenas prestar atenção no seu trabalho, você perde sua família. E, se você decidir que só vai cuidar de sua família, você perde seu trabalho. Paradoxos, portanto, não podem ser resolvidos. Podem apenas ser balanceados.
Como é possível construir um bom relacionamento local-global em prol de uma administração eficiente? Acredito que o mais importante é que as pessoas nos países das subsidiárias se sintam seguras de que os executivos da matriz entendem suas necessidades locais, seus valores, suas restrições, ou seja, a cultura local. É uma coisa difícil de acontecer porque requer que os executivos globais sejam treinados na administração de paradoxos. É preciso consolidar as funções globais sem perder a sensibilidade em relação às diferentes e específicas funções locais. É importante tornar possível esse balanceamento.
Quais são as mentalidades necessárias para uma empresa global? Trabalho em equipe, confiança e administração de conflito. É impossível ter uma organização matricial global sem um trabalho em equipe efetivo. A boa vontade de falar algo para alguém que você sabe que não vai estar de acordo com você é uma das principais características de uma empresa global de sucesso. Mas, para isso, é preciso ter confiança de que os interesses daquela pessoa são os melhores possíveis para o negócio da empresa e que ela também o compreende e se põe à disposição para atingir objetivos comuns, mesmo que tenham diferentes níveis de responsabilidades. Isso é, portanto, trabalho em equipe, que depende de confiança e, no limite, da habilidade de administrar conflitos e diferenças, garantindo que sejam mantidas as políticas e as melhores práticas da empresa.